Mesmo com um cenário preocupante com a Covid-19, lojistas e ambulantes de algumas das principais cidades do Cariri e Centro-Sul do Estado seguem mantendo suas portas abertas, recebendo clientes de forma irregular. O descumprimento do decreto foi facilmente flagrado pelo Diário do Nordeste, nesta quarta-feira (24), em cidades como Crato e Iguatu. Entre os estabelecimentos que descumprem as ordens das autoridades estão lojas de eletrônicos, assim como camelôs e feirantes.
Nesta quarta-feira (24), a macrorregião de Saúde do Cariri, que soma 45 municípios no Sul e Centro-Sul do Estado, está com 94,44% de seus leitos de UTI ocupados. Ao todo, soma 144 vagas. No caso dos leitos para adultos, a situação é ainda mais grave com 97,76% de preenchimento.
Apesar da situação tão delicada, em Crato, algumas lojas de venda de material de celulares e variedades permanecem com portas abertas e funcionando regularmente no centro comercial. Os empresários não quiseram comentar sobre a decisão. Na área central da cidade também não faltam camelôs e vendedores de lanches nas calçadas e nas praças.
O presidente da CDL de Crato, José Alves Lobo frisou que, há um ano, vive-se um momento que classificou como “doloroso” e lamentavelmente o comércio nesse período tem sofrido muito.
No dia 9 deste mês, prefeitos da região decidiram não aderir ao lockdown,mas a medida foi implantada dias depois pelo Governo do Estado em todos os municípios do Ceará após o agravamento generalizado de casos.
“Foi constatado que não é o setor que provoca contaminação do coronavírus, pois, as lojas seguem os protocolos de segurança, fizeram as adequações recomendadas e tem pouca movimentação”. Além disso, ressaltou que empresas fecharam por conta da crise e pediu que as autoridades “olhassem para as aglomerações em festas clandestinas e nas agências bancárias”, completou.
A coordenadora de Vigilância em Saúde de Crato, Arlene Sampaio, ressalta que a Vigilância Sanitária tem realizado a fiscalização em conjunto com a Polícia Militar e Guarda Civil Municipal nos três períodos, mas ainda tem encontrado resistência, principalmente no Centro.
“Acaba sendo realidade em todos os municípios, principalmente nos de maior porte. Há um movimento preocupante em se manter abertos. Empresários fazendo campanhas o que dificulta muito o trabalho. Eles se sentem respaldados”, lamenta Arlene.
Arlene ressalta que, desde janeiro, já foram realizadas cerca de 600 ações de fiscalização. “A maioria com notificações”, pontua. Até agora, durante o lockdown, 15 estabelecimentos foram notificados e um foi multado ontem (23), justamente por se manter com as portas abertas sem autorização. “A gente vem encontrando muitas dificuldades e estão procurando maneiras de burlar, mudando o CNPJ. Mas ainda não chegou a casos de interdição”, completa Arlene.
Insistência
Em Iguatu, mediante a fiscalização da Guarda Municipal e da Vigilância Sanitária, a maioria das lojas no Centro comercial cumpre as medidas de isolamento rígido e estão fechadas. Entretanto, os camelôs continuam com pequenas bancas em calçadas da área central e os vendedores de frutas e verduras permanecem em suas barracas no entorno do mercado público.
Os lojistas estão trabalhando por meio de delivery. Os empresários temem a fiscalização e a aplicação de multa. “A situação já está muito difícil, antes mesmo desse lockdown, com pouca venda, e se a empresa for multada vai complicar ainda mais”, disse Ana Maria Fernandes, gerente de uma loja varejista de confecções populares.
“A gente não entende que algumas empresas podem abrir como mercearias, mercadinhos, supermercados e lojas de material de construção, mas outras não”, criticou o lojista Luís Costa.
O diretor da Vigilância Sanitária de Iguatu, Samuel Bezerra, frisou que a fiscalização continua de forma permanente, mas que há maior dificuldade no combate às festas clandestinas em que os agentes são ameaçados.
O camelô, vendedor de material para telefones celulares, Carlos Souza, argumentou: “Não tem ajuda do governo e a gente vive dessas vendas, não tem como parar porque a gente tem de pagar aluguel, luz, água e comprar comida”.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Iguatu, José Mota Luciano, “as empresas vivem momento crítico com empresários ansiosos e deprimidos com medo de falência se o lockdown continuar por mais tempo”.
Ele criticou a implantação de medidas rígidas em cidades do interior. “Não acreditamos que nas lojas, com pouca gente, ocorram as contaminações e as cidades pequenas não têm transporte coletivo e nem indústrias com centenas de operários”.
O presidente do Sindicato dos Lojistas (Sindilojas) de Iguatu, Tadeu Rolim, também é contra o prolongamento do lockdown e defende medidas de isolamento diferenciadas entre Fortaleza e pequenas cidades. “Não se pode dar um tratamento igual a uma capital e um pequeno centro urbano que só tem duas ou três ruas que formam o centro comercial”.
Rigor
Já em Icó, a segunda maior cidade da região Centro-Sul do Ceará, alguns moradores continuam andando no centro comercial, mas a maioria das lojas está fechada, cumprindo a legislação. A intensidade da fiscalização local impede a presença de camelôs.
A CDL da cidade também mostrou preocupação com a crise que afeta o setor desde o ano passado. “A gente tá vivendo um verdadeiro terror e tudo está fechado com fiscalização muito rigorosa”, disse a presidente da entidade, Rosa Maria Pinheiro Landim Alencar.
Rosa pediu que “o governador andasse no interior e visse a situação do comércio em crise, com demissões e fechamento de empresas”. Ela argumentou que “supermercados e bancos fazem aglomeração, mas a maioria das lojas não tem muita gente comprando”.
O advogado e assessor da Prefeitura, Fabrício Moreira, defendeu a necessidade das medidas restritivas. “Devemos levar em conta que os leitos de UTI e de enfermarias estão com ocupação em 100% e há muitos casos graves e mortes e todos precisamos dar a nossa contribuição para vencer essa pandemia devastadora”.
Feriado
Como foi feriado, neste dia 24 de março, pelo aniversário de nascimento do Padre Cícero, em Juazeiro do Norte o Centro esteve fechado e a circulação de pessoas foi muito pequena. De acordo com o coordenador da Vigilância Sanitária do Município, Everton Alves, os primeiros dias de lockdown foram de orientação, mas já na última semana, aqueles que cometem reincidência têm sido notificados. “Nós descentralizamos a atuação”, ressalta.
De 29 de janeiro até terça-feira (23), a Vigilância Sanitária de Juazeiro do Norte contabiliza 45 termos de inspeções, 4 autos de infração e 12 interdições. Antes do isolamento social mais rígido, outros dois restaurantes foram multados pelo não uso da máscara de seus colaboradores e clientes.
Fonte: Diário do Nordeste