Dois espaços de memória foram inaugurados no Cariri dentro da programação do I Seminário Internacional do Patrimônio da Chapada do Araripe. A iniciativa, que integra o projeto “Museus Orgânicos”, proposto pelo Sistema Fecomércio Ceará e pela Fundação Casa Grande de Nova Olinda, contemplou a trajetória do Mestre Nena da tradição de bacamarte e do Mestre Raimundo Aniceto, das bandas cabaçais.
O Museu Casa do Mestre Nena, em Juazeiro do Norte, foi inaugurado na manhã desta quarta-feira (7). O brincante de 67 anos movimenta a tradição com o grupo “Bacamarteiros da Paz”, representando o cangaço e o misticismo popular.
Como explica Elane Lavor, gerente da Unidade Sesc Juazeiro do Norte, o conceito “orgânico” deriva da interação com o mestre e a sua família no dia a dia. Um dos principais curadores da iniciativa, Alemberg Quindins, fundador da Casa Grande, destacou o potencial patrimonial nas dinâmicas da cultura no Cariri. “Cada espaço desse é um centro cultural, um museu ao céu aberto dentro da Chapada do Araripe”.
Já nesta terça-feira (6), ao lado da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, o museu orgânico do Mestre Raimundo Aniceto, de 85 anos, que homenageia a trajetória do grupo na cultura popular, foi inaugurado em Crato. Sua casa será aberta à visitação e preservará a história do grupo e os instrumentos artesanais.
A rota do museu do Mestre Raimundo faz parte do percurso cotidiano da própria casa. A cor verde é utilizada em diversas texturas e nuances. Nas paredes de quase todos os cômodos, especialmente nas salas de estar e jantar, e nos corredores, foram expostas fotografias dos integrantes da banda e diversos prêmios adquiridos na trajetória musical.
Ao todo serão produzidos 16 museus orgânicos no decorrer do projeto. O recorte para a criação dos espaços foi semelhante ao processo criativo de composição dos museus de Mestre Antonio Luiz com as máscaras de Reisado e do Mestre Françuli com as artes em flandres, ambos inaugurados em Potengi.
Baseada na arquitetura do afeto, como propõe Alemberg, o espaço comunitário de um museu orgânico revela o cotidiano e a vivência em redes solidárias, apresentando o modo como se brinca no próprio espaço da prática cultural.