Na região do Cariri, a tarde desta quarta-feira (13/08) se transformou em um gesto coletivo de cuidado. Uma comitiva do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) percorreu os espaços que formam a rede de enfrentamento à violência doméstica no Crato: Delegacia de Defesa da Mulher, Centro de Referência em Direitos Humanos, Casa da Mulher Cratense, Centro de Saúde da Mulher e o Observatório da Violência no Cariri. Um roteiro que, mais do que institucional, foi humano – feito de encontros com quem dedica a vida a transformar a realidade de outras mulheres.
A cada visita, olhares atentos e escutas silenciosas revelavam que, por trás de cada serviço, há histórias, dores e também vitórias. A presidente da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, desembargadora Vanja Fontenele Pontes, resumiu o sentimento ao final do percurso: “Nós já sabíamos do trabalho da rede, mas hoje estivemos diretamente com os profissionais que fazem esse trabalho rico e potente. Conhecemos de fato o que eles realizam e também as deficiências. A nossa intenção é trabalhar para superar essas lacunas, cada um na sua área, e abrir cada vez mais portas para que as mulheres tenham políticas públicas a seu favor. Esse é o maior desafio: trabalhar para que possamos, no futuro, não apenas mitigar, mas transformar realidades.”
Na Delegacia de Defesa da Mulher do Crato, a delegada Kamilla Brito falou com orgulho da trajetória de luta que moldou a cidade. “A rede de apoio aqui é muito firme. Os movimentos de mulheres no Crato são conhecidos como um dos mais fortes do Estado. Elas lutaram pela criação da delegacia, pela chegada do IML, e depois vieram o Centro de Referência e o Juizado, fortalecendo ainda mais o atendimento.”
Com 23 anos de atuação, a DDM se mantém como porto seguro para quem chega fragilizada. “A vítima precisa de um atendimento humanizado. Nós vamos até a casa buscar os bens, acompanhamos no IML, fazemos tudo o que estiver ao nosso alcance. É muito importante que ela saiba dos seus direitos, e hoje vemos mulheres até da zona rural chegarem aqui já pedindo medida protetiva, cientes do que querem e do que têm direito.”
No Centro de Referência em Direitos Humanos (CRDH), a coordenadora Cibele Xenofonte destacou que o local atua como ponto de apoio para pessoas sem suporte familiar, jurídico ou psicológico. “Recebemos demandas diretas, inclusive do Disque 100, e fazemos o encaminhamento para os órgãos responsáveis. No caso das mulheres vítimas de violência, direcionamos para equipamentos especializados, como o CRM e a Casa da Mulher Cratense, para que tenham todo o apoio necessário.”
A Casa da Mulher Cratense é fruto de 10 anos de experiência no atendimento, agora ampliada. A secretária de Direitos Humanos, Zuleide Fernandes, explica: “Aqui, além do apoio psicológico, jurídico e assistencial, teremos programas de profissionalização, empregabilidade, casa de passagem e espaços culturais. É um trabalho conjunto entre Judiciário, Executivo e Legislativo para garantir o combate à violência e criar novas oportunidades.”
DADOS QUE SALVAM VIDAS
No Observatório da Violência e dos Direitos Humanos no Cariri, a professora Grayce Alencar apresentou o trabalho que transforma estatísticas em políticas públicas. “Monitoramos casos desde 2015 para entender o perfil das vítimas e as lacunas na assistência. Também promovemos oficinas, materiais educativos e capacitação de agentes públicos. Com a parceria do TJCE, poderemos direcionar políticas ainda mais eficazes.”
Ao final do dia, ficou evidente que o combate à violência contra a mulher no Crato é tecido com coragem, ciência, empatia e compromisso. Uma rede viva, que se fortalece a cada gesto, cada escuta e cada ação. Porque, por trás das portas que se abriram nesta quarta-feira, havia um pacto silencioso e urgente: nenhuma mulher deve enfrentar a violência sozinha.