O Ministério Público do Ceará (MPCE) apresentou denúncia contra 26 policiais civis do Estado, entre eles, três delegados, por integrarem uma organização criminosa instalada na Divisão de Combate ao Tráfico de Drogas (DCTD), em Fortaleza. A informação foi revelada pelo Portal G1.
O órgão informou que a tramitação ocorre “sob sigilo decretado pela Justiça”, portanto o MP ou nenhum outro membro do Ministério irá se manifestar acerca do Procedimento Investigatório Criminal, de responsabilidade do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco).
“O resultado da investigação será informado aos meios de comunicação no momento oportuno, obedecendo ao devido processo legal”, disse o órgão.
O processo, que conta com 298 páginas e é assinado por três promotores, traz detalhes do esquema. Entre os crimes apontados pelo MP contra os agentes estão extorsão, tortura, tráfico de drogas, usurpação de função pública, abuso de autoridade e favorecimento pessoal. Os investigados são 22 inspetores da Polícia Civil, três delegados, um escrivão e seis informantes. Assim, 32 pessoas são alvos do Procedimento Investigatório Criminal. O documento foi protocolado no dia 18 de agosto.
Conforme a denúncia do MP, a ação é resultante da continuidade da análise da extração de dados de aparelhos celulares pertencentes a investigados da Operação Vereda Sombria, deflagrada pela Polícia Federal em 2017 e do relatório de interceptação telefônica da Operação Gênesis, deflagrada em setembro de 2020. A investigação durou pelo menos três anos.
O Ministério Público solicita ao Poder Judiciário requerimentos de busca e apreensão nas residências dos denunciados, suspensão do exercício de função pública direcionada aos agentes (alegando que os acusados possuem grande influência no Sistema de Segurança Pública do Ceará), quebra do sigilo telemático dos materiais apreendidos, afastamento do sigilo bancário e fiscal e até mesmo prisões, entre outros.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual, a continuidade das investigações e do trabalho de análises de dados dos telefones celulares de delegados e inspetores lotados na DCTD revelou que as ações criminosas realizadas pelos agentes investigados da delegacia especializada partiam de interceptações telefônicas operadas legalmente por meio de autorização judicial.
“Os analistas de inteligência, que ouviam diretamente traficantes interceptados, passavam as informações aos policiais de rua e delegados, como é de praxe nesse tipo de serviço. Ocorre que parte dos policiais se aproveitava dessas informações privilegiadas para abordar as vítimas específicas, que pudessem ser ‘trabalhadas’, tanto para o alcance de apreensão de grande quantidade de drogas, quanto de dinheiro para os que integravam a linha de frente das abordagens, tudo com a conivência e proteção do delegados”, diz o documento.
O abordado pelos agentes, que frequentemente se encontrava com algum objeto ilícito ou mandado judicial em aberto, era extorquido – em várias ocasiões através de prática de tortura- segundo o Ministério Público, e ameaçado de ser preso em flagrante para entregar alguma informação sobre traficantes maiores e mais quantidades de entorpecentes, além de dinheiro, principal foco dos policiais.
“Algumas vezes, os próprios traficantes vítimas das extorsões e das torturas ganhavam a confiança do grupo e se tornavam parceiros e informantes, inclusive recebendo dinheiro ilícito e drogas pelos serviços prestados, tudo de comum acordo com todos”, destaca a denúncia.
Fonte> Repórter Ceará